domingo, 26 de abril de 2009

Orientação sobre as mordidas


A mordida é uma forma de agressividade?
O meu filho está se tornando violento?
Por que as crianças mordem tanto?

Essas e outras perguntas são constantemente feitas pelos pais.
Ninguém gosta que seu filho seja mordido e, no geral, a família inteira se sente agredida ou preocupada quando seus filhos são mordidos ou mordem alguém. Querem saber quem são os mordedores e, às vezes, sentem-se culpados por deixá-los, ainda pequenos, em instituições.
Por isso, é interessante que possamos aprender alguma coisa sobre a mordida: será que é um problema sério? O que significa a mordida?
Antes de mais nada, é bom lembrar que é pela boca o primeiro contato que uma criança tem com o mundo! Você já reparou em um bebê?
Ele leva mãos e objetos até a boca. Por que será?
Para conhecer um objeto, o bebê precisa ter experiências com ele. E, nesta idade, o que ele sabe fazer é levar o objeto à boca.
Cada vez que ele repete a ação, está ampliando o seu conhecimento sobre um objeto e sobre as diferenças entre vários objetos: pesos, tamanhos, texturas, formatos diferentes. Claro que estas experiências ensinam formas de ação para o bebê; não podemos afirmar que haja elaboração e reconhecimento destas, pois isto se dará posteriormente, isto é, com consciência do objeto.
Além destes comportamentos, várias são as formas de comunicação neste primeiro ano de vida que implicam no uso da boca, por exemplo, aceitar ou rejeitar o alimento, chora quando está com fome.
O choro varia de entonações. Cada uma delas com um significado diferente, uma mensagem diferente, e os pais já sabem o que cada choro quer dizer. O mesmo ocorre com os sorrisos e balbucios.
Depois, o bebê cresce um pouco mais e começam as mordidas, que também são uma forma de comunicação com as pessoas e uma maneira de perceber o mundo. Primeiro, o duro e o mole podem ser percebidos; segundo, em interação com outra criança ou com adulto, ocorre uma mordida, haverá uma reação, ou seja, uma resposta social que, para ele, poderá ser novo e surpreendente. Consideramos também estas formas de comunicação como aprendizagens. O novo para a criança merece repetição, principalmente quando é reforçado.
Mas não é simplesmente o riso do adulto, os comentários, etc., que fazem com que a criança intensifique este comportamento.
As experiências individuais de cada criança frente a situações de vida influenciam.
A criança também pode se utilizar de mordida como reação agressiva a algum sentimento, ou necessidade básica, (por exemplo a falta de sono) que está sendo impedido de se manifestar.
Torna-se ou não um mordedor. Depende, inclusive de fatores culturais: é comum os adultos, brincarem com os dentes, fazendo cócegas, fingindo morder, gerando, muitas vezes, sensações agradáveis e outras desagradáveis. Claro que esta fase também é rica em imitações...
Mas precisamos ter o cuidado de não rotular uma criança de um ano, um ano e meio como mordedor, sem compreendermos que é uma fase natural. Quando rotulamos uma criança como mordedor, divulgando para adultos e crianças que convivem com ela, a fama fica perceptível a todos, e a criança começa a agir de fato como um mordedor, pois socialmente, todos esperam dela esta reação.
Uma coisa é certa: é comum crianças entre um e três anos usarem, freqüentemente, esta conduta para se comunicar, recurso este que praticamente desaparece quando a linguagem estiver mais desenvolvida.
Sendo assim, talvez o melhor seja não se preocupar muito com o assunto. Deixar claro à criança a dor que sentimos e, principalmente, esperar que ela possa nos dizer com as palavras o que tentava nos dizer apenas com mordidas.

Fonte: Profª Marilene D. Raupp – U.S.P


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